Vovô viu a uva
- Flavio Ferrari
- 27 de set. de 2020
- 2 min de leitura
A frase é da cartilha "Caminho Suave", conhecida de todos que cursaram o ensino fundamental entre as décadas de 1950 e 1990.
Naquela época, não tão distante, a idade média da população brasileira era de 18 anos, a expectativa média de vida era de 48 anos e apenas 10% da população havia ultrapassado os 50 anos. A pessoa que conseguia, era considerada "velha".

Num país como o nosso, a velhice tem conotação negativa, e está associada à desatualização, incapacidade, incompetência, demência e saúde debilitada.
Hoje, a idade média é de 33 anos, a expectativa média de vida é de 76 anos e 25% das pessoas têm mais de 50, vivendo bem e com saúde, na grande maioria dos casos.
Trata-se de uma gigantesca evolução social, mas a rapidez com que isso aconteceu parece não ter nos permitido atualizar nosso estereótipo do adulto com mais de 50 anos.
Diversos estudos científicos realizados em várias regiões do mundo indicam que muitas das habilidades humanas evoluem até os 60 anos. Compreensão escrita e aritmética, raciocínio social e comunicação verbal são bons exemplos disso. E o decaimento do desempenho nessas habilidades não ocorre da noite para o dia, ou seja, aos 80 anos, a pessoa provavelmente estará num nível semelhante ao que tinha aos 20 anos.
Esses estudos precisam ser refeitos com frequência porque tudo indica que os jovens de hoje viverão mais e em melhores condições físicas do que os de gerações anteriores.
Poderíamos dizer que uma pessoa de 65 anos (como média), embora não possa competir em força e agilidade com um jovem de 20 anos, está no auge de suas capacidades intelectuais no que se refere ao entendimento do mundo e à solução de problemas.
Claro que essa é uma perspectiva puramente biológica. Se a pessoa for "aposentada" precocemente pela família e pela sociedade, essa capacidade é desperdiçada.
E é isso que acontece com frequência, como decorrência do preconceito construído em décadas passadas.
Vovô vê a uva, e degusta o vinho.
No oriente, particularmente na China e no Japão, o envelhecimento remete à sabedoria e tem uma conotação positiva. Os mais velhos são consultados para decisões importantes, recebem atenção, respeito e gratidão.
O resultado é que vivem melhor, e podem contribuir por mais tempo para a família.
Nos países onde o idoso é considerado incapaz e tratado como um fardo a se carregar, casos de depressão e demência, além de outros problemas de saúde, são mais comuns, alimentando esse trágico círculo vicioso, onde perdem todos.
Neste momento onde a sociedade anda mobilizada para causas contra preconceitos, este é um que merece atenção prioritária, porque, com um pouco de sorte, todos sofreremos com ele.
Dica: artigo da FSP sobre a valorização dos idosos e a saúde.