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Sincronismo comportamental, pecado e culpa

Como sabemos o que é certo ou errado, o que é importante ou irrelevante, adequado ou inoportuno?

Se perguntarmos sobre os princípios éticos a qualquer indivíduo do mundo ocidental, a resposta seria uma combinação dos dez mandamentos com os costumes locais.

Entretanto, na improvável hipótese de nos encontrarmos com um ser humano que tenha crescido sem contato com outra pessoa, o resultado seria bem diferente.

Acredito que sejamos geneticamente programados para sobreviver e isso fica claro quando enfrentamos o risco da morte ou situações muito ameaçadoras, quando o instinto de sobrevivência se sobrepõe ao verniz civilizatório que recebemos ao longo da vida.

Vivemos em sociedade e, durante o curso de nossas vidas, balizamos nosso comportamento por outros seres de nosso grupo social.

Conscientemente ou não, é através da convivência social que incorporamos os conceitos que mencionei no início do texto.

As discussões sobre a possibilidade de livre-arbítrio (a liberdade de escolha) costumam animar os filósofos de quando em quando, mas é inegável que a genética, a educação, as experiências de vida e a cultura são fortes determinantes de nossas decisões e comportamentos.

Mais do que isso, quando convivemos por muito tempo com um mesmo grupo de pessoas, desenvolvemos uma “persona” (algo como um personagem) que compõe a dinâmica daquela coletividade em particular. Em outros grupos, é provável que assumamos outros papeis, com decisões e atitudes diferentes.

Somos motivados por nosso instinto de sobrevivência e nos adaptamos ao que costumo chamar, com a licenciosidade poética que me é peculiar, de encontro de neuroses complementares.

Alguns autores chamam esse fenômeno de sincronismo comportamental e ele é, aparentemente, inevitável.

"Decifra-me ou te devoro." (o ultimado da esfinge de Tebas)

Qual seria nossa verdadeira identidade, então? Quem seríamos se não precisássemos prestar contas à coletividade e nos adequar para sobreviver ou, reagir contra o controle externo e, portanto, igualmente influenciados?

Encontrar essa resposta é a tarefa de uma vida inteira, para quem tiver a curiosidade de trilhar o caminho do autoconhecimento.

Esse caminho começa quando nos dispomos a aceitar que não somos a pessoa que gostaríamos de ser.

Temos sentimentos de inveja, raiva, ingratidão, cobiça, todos os sete pecados capitais e mais alguns desejos que não confessamos nem a nós mesmos.

Ao invés de negá-los, e lutar contra eles, em busca do caminho da iluminação e perfeição, seja norteados por religiões ou códigos morais, acolhemos essa pessoa “imperfeita” que somos e aprendemos a amá-la.

Então podemos começar a questionar de onde vêm a sensação de que somos imperfeitos, pecadores e tomar consciência do efeito do sincronismo social.

Isso não significa que precisaremos mudar nossas decisões e atitudes, nos rebelarmos contra a sociedade, buscarmos um retiro espiritual ou qualquer outra medida drástica.

A consciência é a transformação significativa.

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© 2020 by Flávio Ferrari

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