Sincronismo comportamental, pecado e culpa
- Flavio Ferrari
- 8 de out. de 2020
- 2 min de leitura
Como sabemos o que é certo ou errado, o que é importante ou irrelevante, adequado ou inoportuno?
Se perguntarmos sobre os princípios éticos a qualquer indivíduo do mundo ocidental, a resposta seria uma combinação dos dez mandamentos com os costumes locais.
Entretanto, na improvável hipótese de nos encontrarmos com um ser humano que tenha crescido sem contato com outra pessoa, o resultado seria bem diferente.
Acredito que sejamos geneticamente programados para sobreviver e isso fica claro quando enfrentamos o risco da morte ou situações muito ameaçadoras, quando o instinto de sobrevivência se sobrepõe ao verniz civilizatório que recebemos ao longo da vida.

Vivemos em sociedade e, durante o curso de nossas vidas, balizamos nosso comportamento por outros seres de nosso grupo social.
Conscientemente ou não, é através da convivência social que incorporamos os conceitos que mencionei no início do texto.
As discussões sobre a possibilidade de livre-arbítrio (a liberdade de escolha) costumam animar os filósofos de quando em quando, mas é inegável que a genética, a educação, as experiências de vida e a cultura são fortes determinantes de nossas decisões e comportamentos.
Mais do que isso, quando convivemos por muito tempo com um mesmo grupo de pessoas, desenvolvemos uma “persona” (algo como um personagem) que compõe a dinâmica daquela coletividade em particular. Em outros grupos, é provável que assumamos outros papeis, com decisões e atitudes diferentes.
Somos motivados por nosso instinto de sobrevivência e nos adaptamos ao que costumo chamar, com a licenciosidade poética que me é peculiar, de encontro de neuroses complementares.
Alguns autores chamam esse fenômeno de sincronismo comportamental e ele é, aparentemente, inevitável.
"Decifra-me ou te devoro." (o ultimado da esfinge de Tebas)
Qual seria nossa verdadeira identidade, então? Quem seríamos se não precisássemos prestar contas à coletividade e nos adequar para sobreviver ou, reagir contra o controle externo e, portanto, igualmente influenciados?
Encontrar essa resposta é a tarefa de uma vida inteira, para quem tiver a curiosidade de trilhar o caminho do autoconhecimento.
Esse caminho começa quando nos dispomos a aceitar que não somos a pessoa que gostaríamos de ser.
Temos sentimentos de inveja, raiva, ingratidão, cobiça, todos os sete pecados capitais e mais alguns desejos que não confessamos nem a nós mesmos.
Ao invés de negá-los, e lutar contra eles, em busca do caminho da iluminação e perfeição, seja norteados por religiões ou códigos morais, acolhemos essa pessoa “imperfeita” que somos e aprendemos a amá-la.
Então podemos começar a questionar de onde vêm a sensação de que somos imperfeitos, pecadores e tomar consciência do efeito do sincronismo social.
Isso não significa que precisaremos mudar nossas decisões e atitudes, nos rebelarmos contra a sociedade, buscarmos um retiro espiritual ou qualquer outra medida drástica.
A consciência é a transformação significativa.
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